• Para ser empreendedor, idade não é documento.

     

    SÓCIOS NA VIDA E NOS NEGÓCIOS. Maturidade é um bom momento para empreender. Maria, 57, e Oscar Conchon, 59, abriram uma loja de materiais de construção há cinco anos.

     Casal abriu empresa depois dos 50 anos, em busca de satisfação pessoal, uma vida financeira confortável e para manter-se ativos. Conhecimento, experiência e segurança para ousar estimulam o empreendedorismo nesta etapa da vida.

    O Relatório GEM (Global Enterpreneurship) 2011 calculou em 21,1 milhões de pessoas o número de empreendedores (17,1% da população) no Brasil em 2010. Destes, 3,1% representam empreendedores na faixa dos 60 anos – mais de 650 mil pessoas.

    O casal Maria Aparecida, 57, e Oscar Conchon, 59, decidiu empreender na maturidade. Sócios na vida e nos negócios, eles comemoram 37 anos de união e cinco anos como empresários - eles são donos de uma loja de materiais de construção.

    Pisos, pias, torneiras, canos, tintas estão disponíveis nas prateleiras, ao lado da parede com o anúncio dos shows da dupla Roco e Diego, filhos do casal. É neste ambiente que eles passam todos os dias trabalhando, ou melhor, fazendo o que gostam.

    Oscar era representante comercial e viajava bastante até que se cansou da rotina. Antes de ser empresária, Maria Aparecida era dona de casa. Com vontade de sobra e sem medo de empreender, eles decidiram viabilizar o sonho do próprio negócio. "Por já termos noção de negócio (uma loja que tiveram antes de Oscar se tornar representante) e em conversa com amigos, decidimos investir neste sonho", diz Maria.

    Todos os dias, o casal abre o depósito às 7h30, inclusive aos sábados, quando a loja funciona até as 16 horas e aos domingos e feriados até meio-dia."Quando entramos em horário de verão, ficamos abertos até mais tarde", acrescenta Oscar. E a esposa emenda. "Procuramos oferecer um diferencial aos clientes. De domingo, temos que pedir para que o cliente espere enquanto atendemos outro, de tanto movimento", diz.

    O casal também pensa em inovação. Daqui a três meses, eles devem inaugurar um site do depósito, que será um canal de vendas online, sendo que as entregas serão feitas até as 22 horas. A divulgação será feita principalmente pelo Facebook. "A ideia foi nossa", conta Oscar. Eles também estudam as estratégias: preocupados se o investimento que fazem em mídia vale a pena, o casal lançou até um sorteio pela rádio. A proposta foi que clientes ligassem para concorrer a uma torneira elétrica e, naquele dia, foram mais de 300 ligações.

    Questionados sobre aposentadoria, Oscar conta que visitou o INSS para verificar a situação. Ele precisaria de mais 17 anos e ela de mais 15 anos de carteira assinada para se aposentarem por tempo de serviço. Esse foi mais um motivo para que o casal decidisse ter o negócio próprio. "Pensei: vamos precisar de um negócio que dê dinheiro, para que estejamos confortáveis futuramente", diz Oscar.

    Ele acredita que ficar sem trabalhar seja sinônimo também de perda de saúde. "Meu pai, que tem 85 anos, tem Alzheimer, está acamado. Ele era funcionário público e desde que se aposentou parou de trabalhar. Acredito que se ele tivesse se mantido ativo, sua condição poderia ser diferente hoje", conta Oscar. E Maria explica que o trabalho como empresária lhe renovou as energias. "Esse negócio de ficar fazendo crochê não é comigo", diz antes de acrescentar que gosta do contato com o público.

    Em busca da satisfação pessoal e estabilidade financeira, Oscar e Maria Aparecida contam que a idade quando somada à experiência são fatores que contribuem para que o negócio dê certo. Apesar de gostarem de trabalhar, o casal sabe que é importante reservar um tempo para o lazer, afinal o que valorizam é qualidade de vida. Ela lembra que quando trabalhavam no outro negócio que tinham não se davam o direito de tirar férias. "Agora fechamos a loja durante dez dias e vamos passear. No ano passado fomos para o litoral, foi uma delícia".

    Em meio a tanto trabalho, o casal não esquece de valorizar a família. Maria faz questão de cozinhar para os quatro filhos, alguns deles casados, pelo menos duas vezes por semana. E aos domingos todos também se reúnem.
    Influência do mercado:
    Segundo a diretora de Educação Corporativa da Associação Brasileira de Recursos Humanos - regional de Maringá, Dayane Almeida, há alguns anos acreditava-se que seria possível ter qualidade de vida ao parar de trabalhar ou ao realizar trabalhos voluntários. Porém, para ela tem havido um processo de mudança de cultura que se deu de forma natural, devido ao mercado competitivo e às ferramentas inovadoras de conhecimento. Segundo Dayane, o foco passou a ser a possibilidade de obtenção de qualidade de vida, mas também no trabalho.

    Para ela, o foco em desenvolvimento de carreira fez com que pessoas de idade mais avançada ficassem antenadas às necessidades do mercado. Por outro lado, as empresas estão entendendo a necessidade de buscar profissionais experientes para determinadas funções que exigem maturidade organizacional. "Existem altos executivos na faixa de 60 a 70 anos contribuindo na tomada de importantes decisões dentro de organizações".

    Nesta fase da vida, o indivíduo tem menos responsabilidades e pessoas dependendo dele. Assim, é um bom momento para empreender e correr riscos. Basta procurar o modelo mais adequado antes de investir.
    Toda a hora éhora de empreender com sucesso, até depois dos 60
    O entrevistado é especialista em matemática financeira e consultor em finanças, docente da Faculdade FIAP de São Paulo e coautor do livro "Como sair do vermelho e tornar-se um investidor de sucesso", lançado em 2008.
    No momento de pensar no negócio na terceira idade, é melhor buscar algo já programado como uma franquia ou vale a pena começar do zero?
    — "Vamos dividir em dois grupos. 
    Grupo 1 - pessoas da terceira idade com saúde e disposição física e poucos recursos materiais. 
    Grupo 2 - pessoas da terceira idade com saúde debilitada e pouca disposição física e com muitos recursos materiais. 
    Os empreendedores do Grupo 1 podem atuar nos dois tipos de empreendedorismo: franquia ou próprio negócio. Esses profissionais atuam se necessário em funções operacionais, por isso a maioria opta pelo negócio próprio. Eles podem atuar inicialmente como profissionais autônomos e evoluir para pequenas empresas. Um exemplo poderia ser o serviço de transporte de passageiros em uma estância turística. 
    1 O próprio profissional dirige a van. Quando a empresa crescer, o empreendedor pode incluir a esposa, filhos e funcionários contratados. Já os empreendedores do Grupo 2 geralmente focam a franquia. A atuação desses profissionais destina-se mais ao gerenciamento e supervisão. Eles podem adquirir uma franquia de fast-food ou de café. Não servem café ou refeições, mas gerenciam e supervisionam".
    2 O senhor conhece exemplos positivos de modelos de negócios que possamos citar?
    — "Se a nova atividade profissional tiver relação com a antiga atividade profissional, as atividades de consultoria e de conselheiro são interessantes. Caso não exista essa ligação com o antigo emprego, outras habilidades e competências até então latentes afloram e pessoas que nunca foram vendedores percebem que podem atuar nesta área com sucesso".
    3 É possível empreender sem ser "escravo" do próprio negócio? Uma pessoa pode desenvolver um sistema em que seja mais parecido com arrendamento sem a rotina puxada do escritório?
    — "Sim. É necessária a figura do gerente. Esse profissional é o elo entre os funcionários operacionais e a direção. Se a empresa trata da prestação de serviço, geralmente pode ter atividades aos finais de semana e no período noturno. Um ou mais gerentes atuam nesses horários. Se for uma indústria ou escritório, geralmente a jornada de trabalho é no horário comercial".
     
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