Na capital do concurso público, jovens vão na contramão e apostam em carreira no setor privado.

Apesar da falta de tempo e da estabilidade, eles querem ser donos do próprio negócio.

                             Os irmãos João Rafael Couto e Juliana Couto viram no pai a inspiração para investir no setor privado


Centro do poder e sede de órgãos públicos do Executivo, Legislativo e Judiciário, Brasília (DF) é a região do Brasil que mais atrai interessados por uma vaga no serviço público. 
Para se ter uma ideia, o último concurso do Senado Federal, um dos mais desejados dos que sonham com o setor público, em 2012, atraiu 157.939 pessoas para 246 vagas para as mais diversas áreas. A média de concorrência, portanto, foi de 642 pessoas por vaga. Os dados são da FGV (Fundação Getulio Vargas), banca responsável pelo concurso.   
No entanto, no que depender de parte de jovens moradores do DF, a região pode deixar de ser a “terra do concurso público” para virar um excelente campo para o empreendedorismo. De acordo com o presidente da ACDF Jovem (Associação Comercial do Distrito Federal), Rafael Mazarro, a tendência é de que nos próximos anos Brasília se transforme em um excelente campo para investir no setor privado.  
— Hoje você tem um cenário de oportunidades [de empregos] e isso é provado com a migração de pessoas de outros Estados para cá, não só atrás de concurso público, mas de oportunidades de emprego. Não há mais o eixo Rio-São Paulo. Brasília começou a entrar nesse cenário.   
Mazzaro explica ainda que o interesse de jovens pelo setor privado ainda é novo em Brasília. Por isso a associação não possui uma pesquisa de quantas empresas foram criadas no DF nos últimos anos. O R7 também entrou em contato com organizações especializadas no setor empresarial, mas nenhum deles soube dizer quantas empresas foram abertas no Distrito Federal em 2013.   
No entanto, segundo o Sebrae (Sebrae Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Distrito Federal), existem hoje no Distrito Federal 177.659 empresas que representam o empreendedorismo. Elas estão divididas em: 81.777 microempresas (46,03%); 81.792 microempreendedores individuais  (46,03%); 9.721 empresas de pequeno porte (5,47%); e 4.369 produtores rurais (2,45%).   
Ainda de acordo com o presidente da ACDF, os brasilienses hoje atraídos pelo setor privado possuem basicamente dois perfis: aquele já tentou por anos uma vaga no setor público e não obteve sucesso, e aquele que realmente quer o setor privado na construção de uma carreira profissional.   
— Nós, da associação, não somos contra concurso público, mas quem dá lucro a um país, desenvolve um país, é o setor produtivo. Não tem jeito. Isso que tentamos levar para os jovens nas universidades e nos nossos encontros. 
                   Os jovens Yutaka Nakao e Edson Rezende apostaram no setor da ecolavagem e hoje já possuem cinco lojas.

Carreira no setor privado
Os irmãos Juliana do Couto, 27 anos, e João Rafael do Couto, 24, moram em Brasília há quase dez anos. Vieram de uma família de empreendedores. Desde cedo, ajudavam o pai na administração dos dois restaurantes que a família possui na capital federal até que, em 2012, começaram a pensar em ter o próprio negócio. Dois anos depois, Juliana e João Rafael abriram, em janeiro de 2014, uma clínica de estética em Taguatinga Norte, no Distrito Federal.   
— Meu pai sempre trabalhou como empreendedor. Com o restaurante, vimos que queríamos empreender. A gente nunca pensou em outro projeto. Gosto de Brasília porque ela está me dando oportunidades. Hoje é uma opção para empreender. A chance de vencer aqui [do empreendedorismo] é grande, afirma Juliana.   
Concurso público não está e nunca esteve nos planos de Juliana e João Rafael. Eles contam que conduzir o próprio negócio dá trabalho. São 12 horas de trabalho por dia, não tem como todos tirarem férias de uma vez, não existem fins de semana, mas, segundo eles, o resultado compensa.   
— Muitos falam: "Nossa, vocês são loucos", mas é muito bom quando percebemos que a empresa está crescendo, quando vemos os resultados, o movimento de pessoas na loja, a felicidade da vizinhança com a clínica, diz João Rafael.  
Também de olho no setor privado, os jovens Yutaka Nakao, de 25 anos, e Edson Rezende, de 27, viram em Brasília uma oportunidade para empreender no setor de ecolavagem — método de lavagem de veículos que praticamente elimina o uso de água. Há um ano, abriram uma empresa de lava a jato. Já possuem cinco lojas e têm planos de que até o final do ano cinco franquias sejam inauguradas também fora de Brasília.   
— Nunca pensei em concurso. Vimos que o mercado estava carente disso [setor da ecolavagem] e que existia uma demanda. 
Quanto ao apoio da família, Yutaka e Edson disseram que, no começo, os parentes não acreditavam que o negócio daria tão certo em Brasília.   
— Até começarem a ver as lojas serem abertas, ainda viravam e diziam: “Deixa de sonho, vai estudar para um concurso, arrumar um trabalho, ter algo fixo, ressaltou Yutaka Nakao.   
O sócio também acredita que o apoio da família geralmente não é imediato. 
— Hoje em dia o que pesa no empreendedorismo é mais o apoio da família do que o próprio negócio.   
Tanta segurança pela carreira no setor privado também veio de más experiências, segundo Yutaka. Em 2012, ele abriu um lava a jato de ecolavagem, mas o negócio não durou muito tempo.   
— [A empresa] começou com muita força, só que a falta de maturidade e de conhecimento técnico na área empresarial me levou a quebrar. Mas eu nunca tive perfil para ser funcionário de ninguém. Sempre trabalhei no empreendedorismo.   
Brasília e o empreendedorismo
A coordenadora de extensão do CDT (Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico) da UnB (Universidade de Brasília), Cristina Castro-Lucas, acredita que Brasília não vai perder o título de "cidade do concurso público" porque ela é o centro do poder. Mas, de acordo com a professora, a tendência é de que também se desenvolva na capital federal um mercado de serviços cada vez mais especializado e qualificado para atender às necessidades tanto da população quanto dos governos local e federal.    
— Não é importante deixar de fazer concurso ou passar a ser só industrial. Não somos [Brasília] um polo de indústria, mas somos a maior frente de serviços hoje. E para atender todo o governo, a gente precisa de serviços especializados e de boa qualidade.   
Cristina lembra ainda que 70% do crescimento dos países em desenvolvimento vem da área de serviços. Para ela, Brasília, como centro do poder, reúne características ideais para alinhar crescimento econômico à oferta de serviços cada vez mais especializados.   
— Isso [cultura do concurso público] não precisa deixar de existir. Em termos de desenvolvimento econômico, crescimento populacional, vai ter espaço para todo mundo. Há quem goste de ser funcionário público pela tranquilidade, pela certeza. Há quem goste de ser um investidor de sua carreira para ganhar mais, para crescer. 
fonte:http://noticias.r7.com/distrito-federal/na-capital-do-concurso-publico-jovens-vao-na-contramao-e-apostam-em-carreira-no-setor-privado-25082014





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