Classe C busca cursos para abrir negócio.

Para realizar o sonho de ser patrão, parcela da população sem acesso a universidade busca na especialização forma de prosperar.


foto:Na média, empreendedores no Brasil têm apenas o ensino médio. Para alcançar o sonho de ter seu próprio negócio, eles buscam capacitação profissional
 Na média, empreendedores no Brasil têm apenas o ensino médio. Para alcançar o sonho de ter seu próprio negócio, eles buscam capacitação profissional.




 O empreendedorismo é uma característica do povo brasileiro. Por aqui, uma em cada quatro pessoas tem negócio próprio ou está envolvida na criação da sua empresa. São 27 milhões de empreendedores, o que garante ao País o terceiro lugar no ranking mundial. A China é a campeã, com 373,5 milhões de empreendedores. A nossa vizinha Argentina ocupa apenas a 12ª posição, com 6,7 milhões de empreendedores. Os dados fazem parte de pesquisa realizada pelo Sebrae em parceria com o Data Popular. "Se a carteira assinada fez a classe média chegar aonde chegou (maior classe consumidora do País), é o empreendedorismo que vai levar esse estrato social adiante", avalia Renato Meirelles, presidente do Data Popular.
De fato, uma parcela significativa da população brasileira quer ser seu próprio patrão. Pesquisa também do Sebrae mostra ainda que 34,6% dos brasileiros sonham em ter um negócio próprio, percentual atrás apenas de comprar casa própria (45,2%) e viajar pelo Brasil (42,5%). "Casa e negócio próprios estão entre os principais interesses dos brasileiros e, normalmente, a casa vem depois que a atividade está pronta", explica o consultor Reinaldo Messias, do Sebrae-SP. "Temos notado um crescimento grande no número de pessoas que querem empreender, mas a cultura do emprego formal (com carteira assinada) ainda é muito forte e cultural no nosso País", destaca Ana Kuller, coordenadora de educação do Senac-SP.
Na média, os empreendedores no Brasil têm 39 anos e apenas o ensino médio. Para alcançar o sonho de ter o seu próprio negócio, eles buscam por capacitação profissional, normalmente cursos rápidos que já lhes deem uma formação, como cabeleireiro, chaveiro, encanador, padeiro, entre outros, e que ao final do curso já lhes permita abrir a sua empresa. "Há uma correlação entre o nível de escolaridade e a abertura de negócio próprio", explica Messias, ao comentar que pessoas com maior formação já tiveram inúmeras chances e formas de ganhar dinheiro. "Isso não ocorre com quem tem uma formação menor, e essas pessoas buscam mais o empreendedorismo", diz o consultor do Sebrae-SP.
As empresas de formação profissional têm identificado um aumento crescente no número de inscritos em seus cursos. E o ramo da beleza está entre os que mais despertam interesse. Entre os atrativos para a escolha desta área estão: a exigência apenas de formação básica (ensino fundamental), baixo investimento, duração do curso e o aumento da demanda por itens de beleza. "O Brasil é o terceiro maior consumidor de beleza do mundo, um mercado de R$ 37 bilhões, que fica atrás apenas dos Estados Unidos e Japão", revela o presidente do Instituto Embelleze, Paulo Tanoue. "Desde a criação do MEI [Microempreendedor Individual], a segunda categoria que teve maior procura foi a de cabeleireiros [atrás apenas dos pedidos de abertura de bares e restaurantes]", conta o diretor do Instituto L'Oréal Professionnel, Richard Klevenhusen.
De fato, nos últimos seis anos, o número de salões de beleza espalhados pelo Brasil triplicou. Em 2006, eram 200 mil unidades e hoje são cerca de 600 mil. Apenas na categoria empreendedor individual, cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza representam 11,8% do total de negócios no Estado de São Paulo. Na capital paulista, são lançados mais salões de beleza do que bares e lanchonetes. Entre janeiro e junho de 2012, foram abertas 2.445 empresas de serviços relacionados à beleza, alta de 85% em relação ao número de registros no mesmo período do ano anterior.
Investimentos
De olho neste mercado que não para de crescer, algumas empresas, inclusive  as fabricantes de produtos de beleza, resolveram dar uma força na formação profissional dos brasileiros. O Instituto Embelleze, por exemplo, forma cerca de 150 mil alunos novos todos os anos. São 23 cursos ligados à área de beleza. A maioria dos participantes são mulheres (92% do total de inscritos), com idade média de 30 anos. "Mais ou menos a metade dos alunos atua no mercado autônomo", revela Tanoue, ao comentar que o mercado segue em expansão e a expectativa é de fechar este ano com crescimento de 20% em relação ao ano passado.
Também apostando neste segmento, o Instituto L'Oréal Professionnel criou a primeira unidade em 2010 e hoje já conta com seis unidades, sendo três próprias e três franquias. O instituto forma mil alunos por ano e a expectativa é chegar a 1.500 profissionais no próximo ano. "O mercado brasileiro está passando por uma transformação e quem ganha com isso é a cliente, que tem acesso a profissionais que buscam por mais qualificação e a mais opções", considera Klevenhusen.
Outras áreas
Mas não é apenas o segmento da beleza que tem ganhado destaque na formação de profissionais e na abertura de novos negócios. No Instituto Monitor, cursos como o de circuito fechado para TV estão entre os que têm grande procura. "Muitas pessoas que fazem esses cursos querem montar o seu próprio negócio. Temos também outros de formação técnica, para quem quer conquistar oportunidade no mercado de trabalho", destaca Elaine Guarisi, vice-presidente do Instituto Monitor. O Monitor tem cerca de 80 mil alunos ativos nos cerca de 200 cursos que  contabiliza no total, contando com técnicos e suas subdivisões e os cursos livres.
De acordo com Elaine, uma área que tem ganhado destaque na formação e, consequentemente, no empreendedorismo é o setor imobiliário. O boom imobiliário que ocorreu nos últimos anos fez aumentar a procura por formação para corretores. Em dois anos, o Monitor contabilizou 15 mil matriculados neste curso. "Muitos interessados em montar o seu próprio negócio", destaca. Também com forte aceitação, mas aí já dependendo de uma formação maior na escola, com necessidade de ensino médio, está o técnico em contabilidade. "Cerca de 80% dos alunos se tornam empresários de contabilidade. Esta é uma área que está muito ligada ao empreendedorismo", comenta Elaine, ao afirmar que o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) vai passar a exigir faculdade para  dar o registro aos profissionais, que até hoje também era concedido a técnicos em contabilidade. "Com isso, houve um aumento muito grande da procura neste ano", conta Elaine.
O Senac atendeu 74.601 alunos em cursos técnicos em 2013, entre matriculados em contabilidade, informática e estética, entre outros. Já nos cursos de capacitação, contou com 40.783 alunos para áreas de maquiador, manicure e pedicure, entre outros. "Os cursos técnicos têm duração de um a dois anos e os de capacitação variam entre 160 a 240 horas de aulas", explica Ana. O investimento depende do curso, mas o Senac tem política de bolsa de estudo e o processo de seleção leva em consideração apenas o critério socioeconômico. "O perfil predominante nos cursos é o de pessoas das classes sociais C, D e E", afirma a coordenadora de educação do Senac-SP.
Valores acessíveis
Os valores cobrados pelos cursos de capacitação profissional estão entre os principais atrativos para a busca por esta opção de formação. Os cursos, normalmente, têm baixo investimento e na maioria das vezes os alunos já podem iniciar sua atividade profissional durante a formação e, assim, pagar pelas despesas da capacitação. Este é, por exemplo, o caso de muitos que se formam na área da beleza, conforme explica o presidente do Instituto Embelleze. "Um curso para cabeleireiro profissional tem duração de cerca de 14 meses, e ele aprende desde como tratar o cliente até a parte técnica, como coloração e química. Mas no terceiro ou quarto mês o aluno já tem a parte técnica para atuar autonomamente fazendo uma escova, por exemplo, e com isso já tem renda para o curso e muitas vezes até para ajudar em casa", afirma.
No Embelleze, o curso de cabeleireiro profissional custa R$ 3 mil e pode ser pago em parcelas durante os 14 meses da capacitação, com mensalidade de cerca de R$ 210. Já o de maquiador tem duração de quatro meses e investimento total de R$ 900, que também podem ser pagos parceladamente. Já para manicure, o gasto total é de R$ 930.
Recentemente, o Instituto Embelleze lançou o curso de barbeiro profissional, para atender especialmente o mercado masculino. O novo curso já ocupa a sétima colocação entre os mais procurados, sendo que 70% dos alunos são homens, e exige investimento de R$ 1.150 e tem duração de pouco mais de quatro meses.
O diretor do Instituto L'Oréal Professionnel conta que há a possibilidade de realizar o curso regular em 16 meses ou o intensivo em oito meses, no caso de cabeleireiro profissional. "Estamos lançando o curso de auxiliar de cabeleireiro, com duração de quatro meses e que é uma opção para quem quer ingressar na profissão", afirma. Em ambos os casos, o aluno começa o curso com a parte teórica, depois vai para a prática, que tem início com testes em bonecas e na sequência segue para o chamado salão-escola. Lá, atende clientes de verdade, que pagam um valor simbólico pelo atendimento ou contribuem com ações beneficentes.
No caso de cursos técnicos - como transação imobiliária, contabilidade ou eletrônica, por exemplo -, o tempo para conclusão varia, em média, entre sete e nove meses, e o investimento é de cerca de R$ 2 mil. "No curso de eletrônica, 60% do público são homens. Já no de transações imobiliárias, as mulheres estão dominando", revela Elaine.
fonte: http://www.dci.com.br/especial/classe-c-busca-cursos-para-abrir-negocio-id412018.html
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