Para "superpoderosas", inovação é a chave do sucesso.
Em evento realizado em São
Paulo, Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza, Sofia Esteves,
fundadora do grupo DMRH, e Bel Pesce, empreendedora, destacaram o papel
da inovação no êxito corporativo e pessoal.
"Quem tem o poder é quem tem conhecimento", disse Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza, no Lide Futuro,
evento de liderança realizado na noite dessa quinta-feira, em São
Paulo, para uma plateia de mais de 400 executivos de diversos setores. O
encontro foi organizado por João Doria Jr., presidente do Grupo Doria, e
contou também com a presença de Sofia Esteves, fundadora do grupo DMRH,
e Bel Pesce, fundadora da escola de empreendedorismo FazINOVA.
Mais do que dar dicas de liderança, as três convidadas motivaram os
participantes a ter atitude ao apostar na inovação. "Pessoas e inovação
sempre foram meu foco", contou Luiza aos presentes. "Montamos uma loja
física, porém eletrônica, em 1992. O estabelecimento não tinha produtos.
Tudo o que vendíamos era exibido em televisores", explicou a executiva
sobre a sua primeira iniciativa "virtual". "Dizíamos que aquela era a
loja dos anos 2.000. Oferecíamos cursos gratuitos no local e assim
podíamos ensinar às pessoas como comprar", contou a presidente do grupo,
que faturou 20,5 milhões de reais no primeiro trimestre de 2014.
A executiva ressaltou o quão importante é ousar nos negócios e
brincou: "Quando você está inovando, o melhor é nem contar para as
pessoas. Elas sempre apostam que vai dar errado". Luiza relembrou
passagens de sua trajetória à frente do grupo e afirmou que até mesmo a
sua tia, Luiza Trajano Donato, a fundadora da companhia, duvidou que a
sua ideia de criar promoções e abrir lojas de madrugada no mês de
janeiro, quando as vendas eram as piores do ano, seria realmente
efetiva. Logo reconsiderou e até sugeriu que funcionários entrassem na
fila, vestidos de clientes, para aumentar a buzz da iniciativa. Deu
certo e o mês passou a ser o terceiro em termos de vendas. “Hoje não
existe uma loja que não faça liquidação no início do ano", disse à
plateia.
A fala de Luiza vai ao encontro da história de Sofia Esteves,
fundadora do grupo DMRH. Filha de imigrantes europeus, teve uma infância
humilde e seu primeiro grande desafio foi pagar a faculdade. Ao se
graduar em psicologia, decidiu buscar trabalho, mesmo sem nunca ter
atuado na área. Na primeira entrevista, para ofuscar a falta de
experiência, destacou o seu talento. Conseguiu trabalho em uma
consultoria de recursos humanos, onde sua função era enviar currículos,
via Correios, para seus clientes. Achou que o método não era funcional e
então pegava um ônibus e ia até as empresas entregar os documentos
pessoalmente para ressaltar as qualidades dos candidatos escolhidos para
a posição.
"Um dia uma pessoa com cargo de presidente me procurou e me deu um
mês para recolocá-lo no mercado", contou a empresária. "Ele me disse que
se não conseguisse cumprir o prazo ele iria morar com a esposa no
Canadá", continuou. Apesar da pouca experiência, Sofia se dedicou ao
caso e poucos dias depois o candidato recebeu quatro propostas de
trabalho. "Um dia ele foi ao escritório para me agradecer e contou que,
na verdade, não iria para o Canadá, mas iria se suicidar se não
encontrasse emprego", lembrou emocionada. Daí em diante a carreira de
Sofia não parou de crescer. Trocou de consultoria, mas discutiu com o
dono da empresa, que lhe pediu para fazer algo que era contra a sua
ética profissional. Com base no ditado "os incomodados que se mudem",
desistiu da vaga e, no impulso, montou a sua própria empresa. O começo
foi difícil, mas inovando na área de recursos humanos, ao valorizar o
contato pessoal, não demorou para que sua companhia decolasse. "Eu era
muito jovem e um dia um cliente perguntou onde estava meu chefe.
Disparei: é comigo que o senhor está negociando e fico feliz que não
encare a pouca idade como o sinal de incompetência", disse. Depois de um
sorriso amarelo, o cliente fechou negócio com a jovem executiva.
A pouca idade que causou desconfiança no caso de Sofia também motivou
a empreendedora Bel Pesce a seguir seus instintos e tentar uma vaga no
Instituto de Tecnologia de Massachusetts, uma das universidades mais
renomadas do mundo. Depois da epopéia para encontrar em São Paulo o
responsável pelo processo de seleção da instituição, Bel precisou buscar
a solução de um problema nem sempre fácil de resolver: a falta de
dinheiro. Ela passou no MIT, mas não tinha como pagar a faculdade. Fez
bicos às vésperas de partir para os Estados Unidos e conseguiu juntar o
suficiente para um semestre na universidade. Para continuar, no entanto,
ela teria que conseguir bolsas de estudo. Tudo deu certo para Bel e em
pouco tempo ela já estava familiarizada com o estilo de vida do MIT,
onde os estudantes têm a oportunidade de fazer cursos diferentes, mas
complementares. Lá ela fez de tudo: de aula de dança moderna até
japonês. Foi no Vale do Silício, contudo, que a vida da jovem brasileira
mudou mais uma vez.
"No Vale do Silício a concorrência é muito grande, mas também há
muita colaboração", disse a empreendedora. Para fazer parte daquele
universo, abriu mão de um mestrado no MIT e de estágios em grandes
companhias, como Microsoft e Google. Trabalhou em startups e cofundou a
Lemon, um aplicativo de carteira virtual através do qual os usuários
escaneiam cupons fiscais. "Foi nesse período que decidi escrever um
livro com o que tinha aprendido até aquele momento", contou. Assim
nasceu A Menina do Vale, baixado mais de dois milhões de vezes e
com venda, na versão impressa, de cerca de 30 000 exemplares. A
repercussão em torno do livro trouxe a brasileira de volta ao seu país.
"Fazia vídeos quando ainda estava nos Estados Unidos e muita gente
acompanhava no YouTube. Voltei para o Brasil e montei o FazINOVA, uma
escola diferente que ensina às pessoas como inovar e outras coisas que
considero importantes", explicou. Talento e um bom marketing pessoal é o
que não falta para Bel, listada como um dos 30 jovens mais promissores
do país pela revista Forbes.
A lição deixada pelas três mulheres de diferentes gerações para a
plateia do evento é a importância da coragem no processo de inovação. Os
resultados, garantem elas, vão além da estabilidade financeira. "Depois
de uma certa quantia de dinheiro, a vida da gente já não muda muito. E
foi por isso que minha tia não se desfez da loja", disse Luiza sobre a
paixão da família em vender e a importância da satisfação pessoal nos
negócios. Autora do prefácio do livro Faça Acontecer, de outra
superpoderosa, Sheryl Sandberg, chefe de operações do Facebook, Luiza
não escondeu o entusiasmo em testemunhar o crescimento no número de
mulheres empreendedoras no país: "Essa é a solução do Brasil", disse
empolgada a dona do Magazine Luiza.
Suite 56