Mercado mais feminino



Estudo divulgado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), na primeira quinzena de maio, aponta o crescimento das mulheres no mercado brasileiro. O estudo inédito, chamado As Mulheres Empreendedoras no Brasil, mostra que as empresárias estão mais escolarizadas, têm mais acesso a informações e não se contentam com atividades consideradas femininas, mas empreendem também naquelas que são predominantemente masculinas.


A pesquisa mostra que, além de terem ganhado espaço no mercado de trabalho e posições de poder na política, as mulheres também conquistaram espaço no empreendedorismo. Segundo os dados levantados pelo Sebrae, entre 2001 e 2011, o número de mulheres donas do próprio negócio aumentou em 21%, mais do que o dobro do crescimento verificado entre os homens.


O estudo mostra ainda que as empresas comandadas por mulheres estão se mantendo por mais tempo no mercado. No período pesquisado, a taxa de empreendedoras com negócios em atividade há mais de cinco anos subiu de 48% para 54%. “Elas não empreendem apenas para complementar a renda da família ou como passatempo. Abrem empresas por identificar uma demanda de mercado e estão se perpetuando como empresárias de sucesso, sem espaço para amadorismo”, explica o presidente do Sebrae nacional, Luiz Barretto.


Michely Coutinho, advogada e membro do Coletivo Marcha das Vadias de Goiás, destaca a importância de estudos como este. Segundo a ativista, tais pesquisas são aliadas dos feminismos por mostrar aos que ela chama “incrédulos conservadores”, dados mais precisos acerca das mudanças comportamentais na sociedade. “Uma boa resposta aos que insistem em dizer que lugar de mulher é um cômodo específico da casa. Lugar de mulher é onde ela quiser!”, exclama.


Ela ressalta que prefere tratar de “feminismos” e não “movimento feminista”, como se fosse algo único e homogêneo. “São várias mulheres e grupos, bandeiras e abordagens, cada qual com as especificidades que são inerentes a qualquer ser humano, não somente às mulheres”, explica.


Mulheres no poder



Prova da conquista do espaço, também apontada pelo estudo, é o aumento da proporção de empreendedoras que sustentam suas famílias. Em 2001, 59% das empresárias complementavam a renda do parceiro no orçamento familiar. Dez anos depois, esse percentual baixou para 50%, enquanto a taxa das donas de negócio que são chefes de domicílio subiu de 27% para 37%. Existem 2,6 milhões de mulheres empreendedoras que são chefes de suas famílias, numa relação de uma mulher para cada cinco empreendedores (as) chefes de domicílio.


Outros dados também evidenciam a mudança de comportamento e o avanço das mulheres nos empreendimentos. Um deles é o fato de que, enquanto a proporção das empreendedoras com negócios em Serviços caiu de 49% para 33% no período da pesquisa, a quantidade de mulheres que empreendem na indústria saltou de 9% para 19% do total de mulheres com negócios estabelecidos.


“Em uma sociedade onde se rompe papéis pré-determinados, tendo a mulher liberdade para verdadeiramente empreender, sobretudo se falarmos no atual mercado da livre iniciativa, ela poderá exercer qualquer função ou cargo”, analisa Michely. Ela ainda destaca a barreira que às vezes impede que a mulher se sinta empoderada o suficiente para realizar a atividade de sua vocação, qualquer que ela seja: o machismo.


A ativista que, além da Marcha das Vadias, faz parte da Associação Mulheres na Comunicação, Colcha de Retalhos, Mural de Ideias e Fórum Goiano de Mulheres, ainda esclarece que a diferenciação muitas vezes feita entre “atividades femininas” e “atividades masculinas” não é válida. “Estas características que o mercado privado enfatiza como ‘masculinas’ ou ‘femininas’ muitas vezes são uma questão cultural, não biológica”.


A melhor arma para que as mulheres continuem a avançar, não só no mundo dos negócios, mas em todas as esferas da sociedade? “Uma educação e cultura com princípios de igualdade serão fundamentais para chegarmos a uma sociedade mais justa, solidária e igualitária”, sintetiza Michely. A advogada lembra ainda que é preciso muito debate e discussão sobre o tema.