Franquias encaram o desafio de se manterem no mercado após modismos -
Aquecimento leva redes a se
multiplicarem, mas ajustes não demoram a se tornarem necessários,
levando segmentos para novo ponto de equilíbrio e deixando lições para
empreendedores
O modelo de franquias é um dos mais atrativos para quem tem o sonho
de abrir o próprio negócio. A aparente facilidade de aderir a um
estabelecimento e produtos já previamente formatados propicia a difusão
de categorias que rapidamente se tornam moda. Já houve a onda do temaki,
do frozen iogurte, do crepe no palito, dos cupcakes, das empadas e dos
esmaltes, mas não tardou para, em todos os casos, a maré baixar. O
panorama é sempre parecido: o mercado cresce além do comum, mas não
tarda a precisar passar por ajustes para regressar a um novo ponto de
equilíbrio. O desafio é se reinventar para não sair do radar dos
consumidores depois que a febre passa.
Quando um produto ou serviço ganha fama, surge um grande leque de
franqueadores que investem no mesmo tipo de negócio. É aí que começa a
disputa por candidatos interessados em abrirem uma unidade. Na pressa de
aproveitar o momento, muitas marcas já ingressam no mercado com a
intenção de terceirizar a operação, sem primeiro se consolidarem. Isso
contribui para a vida curta de muitos destes negócios, que fecham antes
mesmo de amadurecer. Com tantas empresas parecidas pipocando ao mesmo
tempo, os segmentos rapidamente tornam-se saturados.
É comum, nesses casos, que a oferta de estabelecimentos parecidos
supere a real demanda que seus produtos e serviços geram. Neste momento,
inicia-se um processo de seleção natural. Os menos preparados, com
modelos imaturos ou localizados em pontos com menor fluxo, começam a
fechar as portas. Sobram ao fim poucas marcas, que acabam tornando-se
sinônimo de categoria, como ocorreu com a Koni Store e a Yogoberry.
“Entre os franqueadores brasileiros, 34% não têm experiência no que
estão vendendo e 40% deles não têm unidades próprias, o que demonstra
que os próprios não acreditam no negócio. Assim fica fácil prever quem
não irá à diante”, analisa Marcus Rizzo, Presidente da Rizzo Franchising
Consultoria, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Expertise e longevidade andam juntas
Parte do fracasso também pode ser creditado no pensamento de
franqueados que apostam na compra de um modelo pronto como garantia de
sucesso. A abertura no modelo não dispensa conhecimento de mercado e
dedicação, como em qualquer outra empresa. O primeiro passo para não
errar é não se deixar levar pela moda. A marca deve ser avaliada, e o
futuro empreendedor precisa conversar com a franqueadora e também com
franqueados que já tenham tempo de mercado. “O operador tem que se
identificar com a empresa e se perguntar com sinceridade se é capaz de
se ver a frente do negócio, pelo menos, durante os próximos 10 anos”,
avalia Marcus Rizzo.
O fato de a rede estar presente em muitos pontos de venda e em
diferentes cidades e estados está longe de ser uma garantida de
investimento seguro. Essa profusão de unidades pode estar mais
relacionada ao preço reduzido demandado para a abertura. “O número
grande de franquias não significa, necessariamente, uma boa aceitação do
público em relação ao produto. O que acontece é um forte trabalho de
vendas na rede. A aparente popularidade se dá por uma grande quantidade
de unidades adquiridas simultaneamente, o que não significa geração de
resultados para cada uma das franquias isoladamente”, diz o Presidente
da Rizzo Franchising Consultoria.
Para se consolidar no mercado, a franqueadora deve fornecer atendimento
personalizado e acompanhamento a cada um dos seus operadores. Isso é
importante para que todas as unidades mantenham o mesmo padrão de
atendimento e também para as dificuldades enfrentadas pelos
empreendedores sejam identificadas. A companhia deve estar ciente ainda
de que, ao se vender unidades de forma dispersiva, a logística se torna
mais complexa e o relacionamento entre franqueado e franqueador é
encarecido, comprometendo assim a rentabilidade e a consequente a saúde
do negócio.
Franqueador deve ser o primeiro operador
Mais do que disseminar um modelo, o dono da marca deve servir de
espelho para quem comprar a sua ideia. Ao adquirir uma franquia, na
teoria, o pacote deveria incluir a experiência do criador, mas na
prática muitos nunca geriram o modelo e não possuem nenhuma unidade
própria.
Para não recair neste erro, a empresária Fernanda Ribeiro operou suas
duas lojas próprias da marca By Pelo durante cinco anos antes de aderir
ao franchising. Agora, ela se prepara para a abertura de cinco unidades
terceirizadas em Goiás, onde mora. “Desde que eu abri a minha primeira
loja própria, as pessoas pensavam que era franquia. Quis primeiro
amadurecer a ideia antes de colocar na mão de outras pessoas. Eu é que
tinha que passar pelo aprendizado. Agora, me sinto apta porque já
conheço os erros que podem aparecer”, conta Fernanda Ribeiro, fundadora
da By Pello, em entrevista ao Mundo do Marketing.
A experiência no ramo é fundamental para garantir a solidez da empresa,
não basta saber produzir o produto, é necessário também ter uma visão
mais ampla do negócio. “Só saber depilar não é suficiente para abrir o
negócio. A pessoa precisa ter noções de como montar um empreendimento no
setor, entendendo questões a respeito da abertura, de pagamento, de
atendimento a clientes e de gestão de pessoas. Isso é o que se chama um
negócio formatado”, avalia Marcus Rizzo.
Baratear custos pode ser uma armadilha
Um dos pré-requisitos para manter a frequência e a satisfação do
público no estabelecimento é não descuidar do atendimento e também da
qualidade dos produtos e serviços oferecidos. Observar os erros dos
concorrentes é um bom exercício. “Montei o meu modelo de negócios com
base na observação dos erros dos outros que já atuavam no ramo. Eu era
cliente e, por várias vezes, saí com o procedimento mal acabado e com
resquícios de cera na pele. Hoje, finalizo todos os trabalhos com pinça e
uso um equipamento para fechar os poros”, conta Fernanda Ribeiro.
Outro erro comum é copiar a estética do ambiente de uma franquia que
esteja fazendo sucesso para tentar repetir o bom resultado numa nova
rede. Essa estratégia pode funcionar num primeiro momento, mas o desafio
maior não é ingressar no mercado e sim se consolidar nele. Para isso, a
principal estratégia deve ser a da entrega impecável do produto ou do
serviço oferecido pela empresa.
Diferenciar-se em qualidade foi o objetivo de Débora Alcântara,
Fundadora de uma franquia de manicure, setor marcado por grande número
de empresas. Elas costumam apresentar em comum o conceito de conforto,
rapidez e relaxamento durante a realização do procedimento. “Tem muita
gente entrando neste mercado, mas isto anuncia uma futura decadência. O
tempo de duração da maioria das empresas deste segmento não passa de 11
meses. Em Goiás, temos mais de 20 redes diferentes e algumas nem adotam
mais marca. Limitam-se a serem conhecidas como manicures express”, diz
Débora Alcântara, Fundadora da Unhas Fast, em entrevista ao Mundo do
Marketing.
A franquia tem três anos de mercado e é tocada diretamente pelos
fundadores, que mantêm atenção especial para o plano de expansão
presencialmente são os fundadores. O cuidado se deve especialmente ao
alto nível de exigência que a empresa apresenta com relação ao
atendimento. Para manter padrão esperado, a marca investe em cursos de
capacitação de profissionais em comunidades. “Montar um ambiente com a
mesma aparência e até mais barato pode ser possível. Mas se o espaço for
bonito e o atendimento pecar, a cliente não volta nunca mais. O que se
demora a aprender é o quanto a gestão de pessoas dá trabalho”, diz,
Débora Alcântara.
fonte:http://www.mundodomarketing.com.br/reportagens/mercado/31048/franquias-encaram-o-desafio-de-se-manterem-no-mercado-apos-modismos.html